Friday, January 12, 2007

UMA HISTÓRIA…

(Talvez demasiado longa e confusa, tal como a saúde em Macau!)

8:10 – A mamã (portuguesa) chega ao Centro de Saúde (em Macau) com a filha e senta-se na cadeira número um, era a primeira a chegar. Espera pacientemente até às 8:30, quando no altifalante é anunciado, em CHINÊS, que vão distribuir as senhas ou algo do género.
De seguida aparece um enfermeiro e uma enfermeira que pegam no Boletim da criança, verificam algo e dão um termómetro à mamã para por debaixo do braço da criança, sempre sem dizer uma palavra, mas pelo objecto em causa e pelos gestos percebe o que é para fazer.
Até aqui tudo bem. Fazem o mesmo com todas as crianças, principalmente com aquelas que vão levar vacinas, percebeu a mamã depois de observar e de tentar perceber o que diziam.

Continua sentada à espera, não faz ideia por quanto tempo deve deixar o termómetro debaixo do braço (sim, geralmente são 5 minutos, mas nunca se sabe!...) e quando o deve ir (e se deve ir) entregá-lo à enfermeira.
Vai entretendo a filha para que ela se esqueça que tem o termómetro.
O altifalante volta a anunciar algo, em chinês. A mamã não percebeu, não estava atenta e é a senhora que está na cadeira dois que lhe diz que deve ir. Ora, ir onde? Valeu o facto de já lá ter estado antes e de saber que tinha de ir à sala de observação antes de ir à consulta.

Medir o perímetro cefálico, verificar o comprimento (aqui ela já chora), sentá-la na balança para a pesar (aqui além de chorar já treme por todo o lado e está vermelha que nem um tomate). “Ok, wait outside” (Ok, espere lá fora). Era a primeira vez que diziam algo que compreendesse...
Sentou-se novamente na sua cadeira número um e ficou a aguardar enquanto acalmava a filha que só gritava por papel para limpar os olhos cheios de lágrimas e o nariz. A senhora simpática da cadeira dois ofereceu-lhe um lenço de papel. Calçou-a e continuou a aguardar...

O altifalante volta a anunciar algo, novamente em chinês. A mamã, claro não percebeu, não estava atenta e nem à espera que aquele anúncio lhe dissesse respeito. É, novamente, a senhora que está na cadeira dois que lhe diz que deve ir para ver o médico. Já um pouco irritada lá vai a mamã para a sala do médico, que afinal não tem culpa do sistema e diz “Good morning!”, ao qual obtém como resposta uma pergunta em chinês: “Mé meng?”. A mamã decide se deve ignorar ou não e diz “Sorry?” (Desculpe?) ao qual o médico, sempre sem levantar os olhos do papel (ou lá o que era que tinha em cima da secretária) volta a repetir a pergunta: “Mé meng?” Sem paciência e já um pouco irritada, a mamã responde, diz o nome da filha. Ele, então pega na ficha dela, que tem espetado em cima com um clip o número um. Será que não era suposto ter sido o número um a entrar? Por acaso até foi esse o número chamado pelo altifalante, em chinês que realmente a mamã não tinha percebido mas que a senhora número dois tinha tido a simpatia de avisar que era para entrar.

A mamã que só ali está porque é obrigada a ir a uma consulta para a filha poder levar as vacinas e que faz as consultas de rotina no pediatra particular decide não dar importância e informa o médico que está ali para a filha levar as vacinas dos 18 meses.
Ele vê o Boletim da criança de uma ponta à outra e conta os meses, depois diz, desta vez em inglês(!) “1 ano e 7 meses”, enfatizando os 7 meses. A mamã não responde. Ele volta a repetir, novamente com ênfase nos 7 meses e a mamã apenas responde “yes”. Volta a ver o boletim da criança e vê uma consulta marcada para 21/11/2006. Aponta a data e diz “You forgot this one” (Esqueceu-se desta), ao que a mamã lhe responde que a filha tinha febre e que quando a febre passou foi a Portugal de férias, pareceram-lhe explicações a mais e começou a irritar-se, estava quase para lhe dizer que se não lhe ia dar as vacinas que não a fizesse perder tempo e o declarasse por escrito. Respirou fundo.

O médico não disse nada, examinou uns papeis do pediatra particular que a mamã se tinha esquecido de retirar do boletim da criança e que por acaso datavam de 18/11 e era uma receita de Paracetamol e Brufen (até pareciam que estavam lá para confirmar a veracidade da febre...) e voltou-se para o computador onde mostrou à mamã que a filha deveria levar 3 vacinas. A mamã apenas anui com a cabeça. Tentou ver-lhe os dentes mas a gritaria que a criança fez fizeram com que apenas os vislumbrasse quando ela atirou a cabeça para trás a chorar de boca aberta. Auscultou-a à frente e atrás, sempre com ela ao colo da mamã a berrar e a tentar atirar-se ao chão (que pestinha!).

O médico perguntou se ela lavava os dentes e se cuspia a pasta. Disse que ela poderia tomar cálcio que a mamã pensou ser liquido e depois verificou que são tipo pastilhas para por na boca e mastigar. Ainda bem que não foi preciso pagar, não parece que a criança as vá tomar... Receitou igualmente vitaminas e 2 (!) supositórios tipo Benuron para o caso da criança ter febre como reacção às vacinas. Realmente 2 supositórios e a febre vai passar, sem comentários...

Pergunta à mamã se quer dar a vacina da gripe à filha, que por acaso está constipada e a mamã responde que não, porque a filha está constipada. O médico diz que pode dar depois quando a constipação passar e a mamã já a pensar no tempo que teria de perder numa nova consulta e responde que não, não queria dar mais uma injecção à filha.
O médico volta a pegar no Boletim da criança e aponta as vacinas que não fazem parte do plano de vacinação de Macau enquanto refere em tom critico que a mamã não lhe quer dar mais uma vacina mas deu-lhe a da varicela e 3 tipos diferentes de meningite. A mamã responde que em Portugal a meningite mata e que vão muitas vezes a Portugal, ao que ele responde que a gripe também mata mas a mamã já está sem paciência nenhuma e prestes a explodir e diz-lhe que não quer.
Pergunta se quer marcar nova consulta de acompanhamento e a mamã responde que apenas as das vacinas, mas ele diz que agora não há mais (suspiro de alívio da mamã!) e que será apenas aos 6 anos, na escola!

Sai de lá para a sala de observação onde lhe dão os medicamentos que estão na receita e lhe apontam o papel da receita que tem escrito em inglês o modo de tomar os mesmos.
A enfermeira explica em inglês que a criança precisa levar duas injecções, uma em cada braço e umas gotas na boca. Começa-se pelas gotas e ela chora, mas parece que engoliu...
Depois a mamã despe-a e segura-a para a primeira injecção no braço direito e muita luta e muito choro. Mal se acalma segue-se o braço esquerdo.

Depois das vacinas dizem que tem de carimbar na recepção e que depois de aguardar 20 minutos na sala de espera pode ir para casa. Inicialmente pareceu-lhe que teria de aguardar 20 minutos e que depois, sem dizer nada a ninguém, podia ir embora. Volta a perguntar em inglês e a enfermeira lá lhe diz que depois dos 20 minutos deveria ir à sala de observação. Continua sem perceber porquê e pergunta mas não lhe sabem explicar.

O papá entretanto tinha chegado e esperava lá fora porque a mamã disse que era só levar a injecção e ir embora. Enquanto a enfermeira e o enfermeiro discutiam sobre como explicar à mamã que tinha de esperar 20 minutos, a mamã telefonou ao papá para ir ter com ela e tentar perceber o porquê dos 20 minutos. Entretanto, a ter de esperar aquele tempo todo a mamã verifica que chegará atrasada perto de uma hora ao trabalho e que é necessário uma declaração do médico a dizer que esteve no Centro de Saúde todo aquele tempo.

O papá chega e a mamã conta-lhe o que se passa e ele vai perguntar ao enfermeiro (em CHINÊS) o porquê de esperar 20 minutos, mas o enfermeiro não percebe o que ele quer. Os dois a conversar em chinês e não percebe... Entretanto chega a enfermeira (a mamã acha que o enfermeiro é estagiário porque não faz nada, só observa a enfermeira a fazer) e o papá volta a explicar que quer saber porque é preciso esperar 20 minutos e se depois alguém vai ver a criança, dado que a mamã não percebe porque é preciso esperar e eles também não sabem falar com ela e explicar-lhe. Depois de algum mal entendido a enfermeira lá explica que houve uma criança que fez uma reacção muito rápida aquela vacina e por isso agora é preciso esperar para ver a reacção.

Segue-se a confusão de pedir a declaração para apresentar no trabalho e com a enfermeira a perguntar a hora a que chegou a mamã (algo pouco importante, porque se distribuíram as senhas às 8:30 e a mamã já lá estava podiam por essa hora...), depois porque queriam saber até que horas deveriam escrever e se a mamã não sabia a que horas de lá saía como deveria responder a tal pergunta?... A enfermeira decide que é melhor fazer a declaração só quando a mamã for embora (decisão inteligente!).

E com tanta confusão já tinham passado 10 minutos, faltavam mais 10 que passaram rápido e a enfermeira veio pedir a identificação da mãe e da filha para fazer a declaração para o trabalho e só olhou para a criança e a mandou ir para a sala de observação porque o papá perguntou (em chinês) se não era preciso observar a criança...
Criança observada, nada a assinalar, Benuron se tiver febre, gelo nos braços doridos... A mamã saiu de lá às 9:40.

A mamã chegou atrasada ao trabalho uma hora que terá de ficar a compensar ao final do dia. E foi a primeira a ser atendida, imaginem se não tivesse sido!

Esta história é verídica e passou-se esta manhã no Centro de Saúde da Taipa, Macau, China.

Adenda: Ainda sem tempo mas não podia deixar de registar esta história...
Para a semana vou começar a aparecer por aqui mais vezes.

33 comments:

Charilas said...

Céus...Consegue ser pior que cá!....

Fico contente de saber que te vou ver por cá mais vezes!

Beijinhos e bom fim de semana,

Sandra

Edelweiss said...

Aqui as vacinas podem ser dadas pelos nossos médicos particulares, ainda ontem fui ao consultório do meu para tomar a do tétano, que estava atrasada desde Maio.Põem um autocolante com o nome da vacina e o carimbo do médico no boletim de vacinas e está a andar!

Mara said...

Se eu disser que perdi 1 dia no hospital para me darem o resultado do exame que foi feito ao meu saquinho gestacional acreditas? Pois é verdade! mandaram o saquinho em nome de Maria e lá estava ele ( o exame) guardadinho junto às outras Marias! O problema é que eu me chamo Mara! Valeu-me lembrar que muitas vezes me chamam Maria senão o exame ficaria "perdido".
Enfim!

beijinhos para voces

Tita Dom said...

Não consigo entender porque raio as médias necessárias para se tirar cursos de medicina são tão altas!!! Afinal a culpa é de quem, estado, médicos!!!

Uma beijoca grande e tem paciencia... é o mundo que temos!

Não desistir said...

Que grande odisseia!!!! Fico feliz por te ter de volta.
Um beijinho
Bom fim de semana

Piquinota said...

Porra... E eu que pensava que no hospital da Póvoa era mau!:P

As melhoras para a piquinota!


Jinhos

Anonymous said...

Olá Sandra!!
Mas que aventura....uma pessoa tem de se sujeitar a cada uma...olha, estou cheia de saudades tuas...como foram as férias??? Quero pormenores..eheheh...Beijinhos, Susana & Família

guga2004 said...

Que horror. Afinal não é só cá que as coisas não funcionam.

bjs Sandra

Anonymous said...

oi

enquanto estava a ler pensei que fosse uma história já vivida por ti!

realmente ... sem comentários.

jocas
vera

carla said...

Que grande taurada rapariga, aqui a diferença é que não vamos ao médico, mas o raio da vacinação começa às 9.15 por ordem de chegada, depois de vacinarem tb temos de esperar esses tais 20 minutos....saude publica parece-me ser má em todo o mundo, enfim!!!

beijocas

T. said...

A agravar o facto de ser saúde pública, que pelos vistos funciona mal em quase todo o lado, há o facto da língua ser diferente que ainda agrava mais...
Beijinhos

Ana Maria said...

AI amiga q aventura fogo.
Enfim em tod o lado existe problemas destes mas assim tambem nao q grande complicaçao ai em Macau.
Bem espero q esteja tudo bem por ai.

MTS BEIJOKAS :)

Mamã do Diogo said...

Bem que filme miga,td isso so p levar as vacinas e eras a primeira,realmente,o sistema se saude é um atraso total,ate metem nojo.
Beijokas e bom fim de semana

Mae Frenética said...

Q paciência!!

Mas olha q cá a unica diferença era q tu entendias o português... se fosses chinesa em Portugal passava-se o mesmo...

Cláudia said...

Ai Sandra... deve ser complicadissimo.
Eu se calhar vou fazer uma sugestão idiota, mas não dá para tirares um curso em Chinês?
Beijinho para os 4

Ana said...

Eh pa! Bolas se os chineses sao assim para tudo, coitados.
Eu no Canada nesse aspecto nao tenho queixas, eficiencia, delicadeza, atencao, sao um prato cheio neste pais no que refere a Saude Publica.
Beijinhos
Ana Felpuda

mimika said...

Bolas...não há quem aguente!

Queria agradecer a mensagem de boas vindas no babyblogs!!!

Bj

Ana e Luísa

T said...

Irra, que coisa... Enfim... Essa dos 20 minutos já tinha ouvido falar no meu centro de saúde, mas é meramente indicativo. Dizem que devemos aguardar esse tempo a seguir às vacinas, por causa de eventuais reacções alérgicas. Da 1.ª vez que fui lá com a Leonor, perguntei à enfermeira se era mm necessário aguardar esse tempo e ela encolheu os ombros. Na verdade, a haver reacção alérgica, teria de ir para o hospital, pelo que estar atenta à miúda em casa dava o mesmo resultado. E assim faço...
Saudades vossas
Bjs

Tânia by Cyprus said...

Fogo, que inferno!! Ainda nos queixamos de Portugal. Eu aqui dou as vacinas no medico particular mas pago bem!!!
É horrível essa sensação de estarem a falar numa língua que não dominamos completamente. eu acho sempre que estão a falar mal de mim, mas dps vingo-me em Português.
Que a princesa não tenha reacções e passem um bom fds.
Bjs

Susana Oliveira said...

Bem... ate fiquei cansada de ler...

A espera, que aqui é de 30 minutos é porque uma criança realmente fez qualquer alergia a vacina e faleceu. Axo que foi no estrangeiro, mas n sei onde.
Tb axo ridiculo mandarem esperar tanto tempo para depois n verem a criança...

Parece q n é so aqui q a saude está mal...

Beijos

Lisa_pt said...

Olá linda, ñ tive tempo de ler o teu post... o meu tempo anda contadinho... mas aproveito para vos desejar um bom fim de semana!

Gaivota said...

Faz pensar que os nossos até funcionam bem ;)

maria-joão said...

Que história!
Aqui neste centro de saúde também há histórias dessas. Pessoas que vão ás seis da manhã (antes de abrir), para se despacharem a horas de almoço.

Anonymous said...

Antes de mais, um bom Ano para ti e para a tua família!!

Aqui não é muito diferente...
Não sei se sabes como funciona, mas mesmo indo a um médico particular, tens que ir levar as vacinas ao centro de saúde (o comentário da edelweiss deixou-me confusa). Além disso, sempre que precisas de um atestado, porque precisaste faltar ao trabalo por causa dos teus filhos, tens que o ir pedir á médica de família. A última vez que o fiz, cheguei à secretária da médica e pedi o tal atestado, qual não foi o meu espanto, a médica recusou passá-lo porque nem sequer conhecia o meu filho. Tinha ido com ele ao hospital de urgencia e tinha uma declaração do hospital em como ele lá tinha estado. Ora bem, saio de lá de madrugada, nos outros dias fico em casa com ele porque está cheio de febre e tosse e etc e a médica ainda tem o descaramento de dizer uma coisa destas! SE calhar queria que eu faltasse outro dia de trabalho para estar no centro de saúde de madrugada para ver se conseguia uma consulta para esse dia!! Poupem-me!!

Bom fim-de-semana!

Elsa said...

Ainda nos queixamos do nosso sistema de saúde!

Que aventura!

Jinhos grandes,
Elsa

LenaMaga said...

deixa estar que aqui não é mt diferente... no centro de saude, consulta para as 9h (eles dizem para lá estar às 9), sou o nº 5 e saio de lá ao 12h... o médico só chega às 10h!!!
bjs

Cristina said...

Estou a ver que o sistema de saúde público é igual em todo o mundo.

Beijinhos

Cristina

Paulikas said...

Olá Sandra,

estamos de volta!
Pensei que as coisas aí estavam mais evoluidas!!!!!
como estão as tuas crianças?
Beijinhos

Grilinha said...

Bem...confuso por confuso...venha o dia e escolha. Que grande embrulhada. Tanta coisa só para levar vacinas...Beijos grandes e continua paciente, que bem faz falta, eh,eh...

cristina said...

Bem que aventura!
Eu só de ler o teu post fiquei passada imagino tu...

Beijinho grande

. said...

Muito complicado! Até eu fiquei cheia de nervos. Afinal é parecido em muitos sítios, ainda por cima com o entrave da língua...

Carla O. said...

Desesperante!!!
Beijinhos

Helena said...

"Não consigo entender porque raio as médias necessárias para se tirar cursos de medicina são tão altas!!!" Atenção que a média exigida para tirar o curso de Medicina é apenas 14, qualquer aluno com média acima de 14 pode candidatar-se ao curso :) Mas como cada vez há mais alunos a tirarem notas mais altas (muitos vindos de externatos) e são esses que concorrem na sua maioria para o curso de Medicina as médias de acesso acabam por subir.. Se houvesse 100 vagas por ex para Medicina e só 10 alunos com 20 e o resto com média 14 a média de acesso baixava logo ehehe
É uma pena que o sistema de saúde funcione assim... e espero um dia quando for médica e agora enquanto aluna nos anos clínicos poder melhorar a imagem que o público tem da Saúde :)
E para que nem tudo seja pessimista: tive ontem uma aula sobre o plano nacional de vacinação 2006 e acreditem que está bem estruturado e as alterações feitas em 2006 foram para melhor, apesar do gasto adicional. É bom ver que às vezes ainda há preocupação com a saúde pública :)
Beijinhos e desculpa o testamento.