A minha filha tem uma fixação enorme com o tema da morte.
Penso que tudo começou com a morte da minha avó mas andei a pesquisar na net e dizem que é normal nesta idade... Normal ou não, sei que a minha amorinha rara é a noite em que não me diga que tem medo. Nas palavras dela “Tenho medo e não gosto de morrer”. Esta frase é repetida quase todas as noites quando a deito. Já lhe expliquei que ela é muito pequenina e que ainda tem muito tempo para viver, que normalmente só as pessoas mais velhas é que morrem, as que são muito, muito velhas. Também pensei que o problema dela é pensar que pode ficar sozinha porque às vezes diz que não quer que eu morra e expliquei-lhe que mesmo que eu morra está o papá para tratar dela, ou se ele também morrer tem o mano e tem primos e outras pessoas da família.
O facto é que ela está extremamente ligada a mim e muitas vezes diz ao pai “Eu gosto mais da mamã” e com o pai não fala do assunto da morte e do medo que tem da mesma. Já comigo o tema é recorrente...
Na terça-feira foi feriado e eu e o papá fomos ao hospital ver a avó do papá que estava muito mal. Ainda pensámos em levar o boneco e a amorinha mas a avó do papá disse para não levar que não era local para crianças. Obviamente não dissemos nada a eles sobre esta visita ao hospital. A verdade é que a amorinha se fartou de chorar à noite com medo de morrer e que não quer morrer e tem medo.
Ontem à noite a avó do papá faleceu e ainda não disse nada à amorinha nem ao boneco, mas vou ter de dizer pois amanhã é o velório e eles terão de ir. Já estou a antever que a amorinha vai ficar novamente mais obcecada como tema...
Ontem faleceu também o Afonso, depois de um ano de luta contra o cancro que eles acompanharam e também terei de lhes dizer...
Esta noite não vai ser fácil e já andei a pesquisar umas coisas sobre o assunto.
"Com o atingir dos seis anos de idade, a criança atinge uma fase de desenvolvimento que lhe permite encarar a morte como algo irreversível, perdendo o seu lado fantasioso e assumindo uma vertente mais concreta, o que lhe provoca medo da sua própria morte, bem como a das suas figuras de referência. Verifica-se aqui uma transição do medo de separação para o medo de morte. Aí, apresenta uma associação de morte a coisas concretas, como a uma pessoa, a caixões, cemitérios, etc."
Informar sobre a morte
"Fale e ouça a criança - O melhor a se fazer é deixar a criança perguntar o que quiser, encorajando-a a expressar o que sente. Responda a todas as perguntas com palavras simples e frases curtas para que a criança possa entender perfeitamente o processo natural de falência humana.
Uma dica: evite falar que a pessoa dormiu para sempre ou descansou, a criança leva tudo ao “pé da letra” e pode ficar com medo na hora de dormir ou achar que a pessoa que morreu acordará. A expressão “foi fazer uma longa viagem” ou “foi embora” também pode confundir a criança e levá-la a acreditar que todos aqueles que farão uma viagem nunca mais voltarão ou então que a pessoa morta poderá voltar um dia.
Se alguém perto da criança como pais ou avós morrem, a criança não deve ser excluída da experiência da perda como forma de poupá-la. A criança precisa saber da existência da morte, aceitá-la para enfim criar o seu processo de luto. Cada criança mostra o seu luto de diferentes modos e esse processo é fundamental para conseguir passar por esse momento sem criar culpa, medo ou traumas.
O último adeus - O funeral só deve ser assistido pela criança se ela quiser. E não faça com que ela se sinta culpada se não desejar ir. O apoio das pessoas de sua confiança é muito importante. Se a decisão for de ir ao enterro, explique como o será e as cenas tristes que ela visualizará ao seu redor, como a existência do caixão e de pessoas chorando.
Por isso que os pais são essenciais nesse crescimento da criança sem traumas. Se os pais têm medo da morte e tentarem “poupar” o filho, a criança reagirá da mesma forma. Mas se os pais mostrarem com naturalidade o ciclo da vida, a criança lidará com a morte sem problemas"
"Em algumas ocasiões,são os próprios pais que despertam essa preocupação ao recomendarem aos seus filhos que não corram na rua ou que tomem cuidado com os carros,que podem atropelá-los e levá-los a morte.
Mas a justificativa dada com maior frequência é a idade."As pessoas morrem porque ficam velhas",costumam explicar os pais.No entanto,precisamos salientar que o dia-dia pode contradizer essa informação,como quando a criança perde um amiguinho ou mesmo um parente.Isso pode desencadear um medo ainda maior:o de perder os pais.
Se isso acontecer com voçê,uma boa alternativa para acalmar a criança é abraçá-la e dizer a ela que voçê está ali para protegê-la,e que não vai deixá-la sozinha nunca."
Um documento muito interessante: “O que a criança mais receia é a separação, é ficar separada de quem ama.”
Um post interessante sobre um livro
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7 years ago
6 comments:
Não é uma tarefa fácil dadas as circunstâncias. Eu, no teu lugar, não levava os meninos ao velório da avó. Ela era velhinha e partiu. É simples, comparada com a morte do Afonso. Espera mais algum tempo até lhes contares...
Um beijo no coração e os meus sentimentos.
tem tive essa fase e digo-te que é de cortar o coração. Ficamos quase sem palavras e a achar que eles têm razão, né? Mas é a vida e temos de lhes explicar da melhor forma possível. Eu acho que não os devias levar ao velório...é demasiado pesado para eles. Eu fiz isso quando a avó do meu marido faleceu. Expliquei-lhes apenas que partiu mas não lhes mostrei todo o cenário triste que isso acarreta a todos. Eles venceram bem esse problema...ficou sempre a recordação da Quica viva e não morta. PArece-me que para a cabeça deles é bem mellhor. Um beijinho e desculpa ter-me alongado e se me meti na tua vida. É só a minha opinião pois passei por isso.
Os meus sentidos pesamos!Nestas alturas nao sei que dizer,bjs
Pois, quando vi a noticia do Afonso, lembrei-me de voçes.
Sabes, o Tiago também passou por uma fase assim. E o Diogo também. E eu lá lhes disse a verdade,todos podemos morrer, mesmo antes de ficarmos velhotes, mas nesses casos só em circunstâncias especiais. E que, mesmo que eles algum dia tiverem que ficar sem mim têm sempre alguém por perto que gosta tanto deles como eu.
E pronto, eles aceitaram e entenderam. Claro que não foi logo, claro que demorou tempo, e que me foram fazendo perguntas. E eu mantive-me sempre na mesma "versão", verdadeira mas sem grandes dramatismos.
Olha, eles têm mesmo que ir ao funeral? Porque, isso é que eu acho que perguntava se queriam ir, ou não. No entanto, eu considero um funeral uma oportunidade de despedida, nem que seja no pensamento, e acredito que uma criança também o compreende, e sabe perfeitamente o que aquilo representa: no fundo, uma despedida.
È o que eu penso, e fica um grande beijinho
PS: Tenho uma boa novidade, mas fica um mail que depois te mando, ok.
Beijinhos grandes homónima, cabeça erguida, pensamento positivo, pra frente é caminho...e...tudo isto passa (tu própria já passaste por isso, certo)
xau do algarve
De facto é algo natural e que pode causar muita angústia na criança e nos pais. Só os levaria ao velório se eles quisessem ir, é um ambiente pesado até para os adultos.
Lamento muito as tuas perdas!
Não é fàcil, por aqui as perguntas são uma constante por isso trouxe livros para lermos juntos.
Como explicar bem algo que continua a ser pouco claro para nós adultos...
Como não hà pai nem do meu lado nem do lado do maridão,explico que fico triste por já não ter o meu pai,mas que ele està no meu coração.E os piolhicos aceitam;
Enfim...beijos grandes
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