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Wednesday, April 25, 2007

25 ABRIL


Há datas que são importantes pelo significado, pela liberdade que nos trouxeram.
Gostava que um dia os meus filhotes percebessem a importância deste dia, do “meu” 25 de Abril, mas se eles continuarem por aqui quer-me parecer que será sempre mais um feriado que há em Portugal mas que não há em Macau (longe vão os tempos em que também era feriado aqui...)

Era pequena no 25 de Abril, ainda não tinha 4 anos e vivia longe das grandes cidades, no campo.
As imagens que tenho deste dia são ténues e confusas e nem tenho a certeza se são memórias minhas.
Há imagens que não tenho a certeza de ter visto, de ter vivido.
Há imagens que penso serem verdadeiras, outras que penso ser ilusão, sugestão.
Há coisas que ouvimos tantas vezes com descrições tão pormenorizadas que as começamos a imaginar e até parece que são nossas, que as vivemos mesmo.

Demasiado pequena no 25 de Abril, no fim de um processo complicado de luta pelo poder paternal entre o meu pai e a minha mãe, e já com tantas recordações mais ou menos dolorosas. Foi essa luta que me fez sair mais de casa, do meu canto, a casa da minha avó, numa fazenda.
Foi nessas saídas que me fui apercebendo das diferenças, que havia coisas que tinham mudado, demasiado pequena para perceber a sua importância.
Foi nessa altura que se deixou de bichanar lá em casa, que eu não era mandada falar mais baixo constantemente (e, quem me conhece sabe que tenho um tom de voz que se ouve em todo o lado mesmo a falar normalmente) e podia ir brincar à vontade pelos pinhais circundantes.

A imagem do menino a colocar o cravo no cano da espingarda guardo-a na memória há imensos anos, nem sei onde a vi e a música “Grândola, vila morena” leva-me imediatamente a pensar no 25 de Abril, a única revolução no mundo inteiro que teve a particularidade de começar com uma canção, foi esse o sinal para avançar.

Assisti(o) à luta dos habitantes de Hong Kong pelo direito ao sufrágio universal e não compreendo a taxa de abstenção que se verifica em Portugal. Um direito (entre tantos) adquiridos com o 25 de Abril, mas que me parece que as pessoas percebem cada vez menos.

Vejo a censura na China e dou imenso valor à liberdade de expressão que temos em Portugal (ok, a censura escondida também existe, mas é muito diferente do que existe na China).

Gostava de ter a capacidade de fazer com que os meus filhos dessem o devido valor à revolução dos cravos, mas sei que estou sozinha nessa luta que o próprio pai, chinês, não percebe...