Sempre fui uma criança muito traquina e difícil.
Sempre me bateram para que aprendesse como me deveria portar, o que devia ou não e o que podia ou não fazer. Dia em que não levasse porrada não era dia.
Não critico nem julgo, era assim naquele tempo. No tempo da minha avó.
Foi ela que me criou e que me educou, que aturou as minhas birras, que me mudou as fraldas (naquela altura de pano), que me mandava fazer a roupa e que foi trabalhar depois do meu avô falecer para por comida na mesa para nós.
Naquele tempo batia-se aos filhos, hoje também se bate, mas já não é visto com os mesmos olhos.
Talvez de tanto apanhar que já era tão normal que nem me incomodava. Doía enquanto durava e depois passava e eu voltava a repetir a asneira ou a fazer outras porque as crianças adoram testar a paciência dos adultos e eu conseguia ser pior que os rapazes da minha zona.
Na minha mente desde essa altura que prometi a mim mesma que quando tivesse filhos havia de ser muito paciente e que não lhes ia bater, mas sim explicar o que fizessem mal e se fosse o caso deixá-los de castigo.
Quando o meu boneco nasceu e o amor de mãe nasceu reforcei a promessa.
Um bebé difícil, que chorava imenso de noite, chorou quase todas as noites durante o primeiro ano de vida e continuou a acordar a uma média de duas vezes por noite até aos 2 anos. Depois, fez-se um “clic” ou algo do género e passou a dormir toda a noite. Agora por vezes ainda acorda a meio da noite e pede leitinho, que eu resmungo mas não recuso.
Lembro-me de me zangar muito e de me irritar porque ele não se calava e de o embalar com demasiada força porque eu já estava desesperada. Lembro-me de ficar cheia de remorsos a pensar que sem querer podia estar a fazer-lhe mal e de me obrigar a acalmar porque ele sentia que eu estava irritada. Lembro-me de lhe perguntar num tom de voz mais alto do que gostaria “Mas o que é que tu tens, o que é que queres”, como se ele me pudesse responder.
Lembro-me de lhe dar a primeira palmada por cima da fralda, era ainda bebé e não se queria deitar, só ficar de pé na cama, cheio de sono quase a cair, mas a resistir.
Lembro-me de mais umas palmadas nas mãos para não enfiar os dedos em sitios perigosos, mais festas que palmadas... e de uma ou outra palmada mais forte, uma vez porque me mordeu e outra por qualquer outro motivo que já não me recordo.
Não me orgulho dessas palmadas, antes pelo contrário, envergonho-me e repreendo-me. Não o devia ter feito e pedi-lhe sempre desculpa depois, mesmo quando ele não percebia e já depois de ser maior expliquei-lhe que a mamã também erra porque errar é humano, e por isso pedia desculpa e ia tentar aprender a ser melhor mãe, mais paciente e menos irritável.
Acho que o tenho conseguido.
Não tem havido palmadas lá em casa, geralmente ralho e falo mais alto do que gostaria, e grito mais do que gostaria também, e há castigos e sítios onde não vamos porque se porta mal, coisas que não compramos porque se porta mal... e no rua costumo segurar-lhe o braço com mais força quando vejo que começa a fazer demasiadas patetices e ele já percebe o sinal e às vezes acalma-se, outras leva-me a apertar-lhe o braço com mais força até que se acalme pois passa de uma ligeira pressão para um aperto mesmo.
A mana acabou por sair mais privilegiada nesta minha tentativa de melhorar e só aos 2 anos levou uma palmada a sério, e espero não repetir.
Quando era mais pequena e tentava enfiar os dedos nas tomadas consegui apenas desviar-lhe as maos e dizer que não podia mexer pois fazia dói dói. Ralhando com ela ela percebe muita coisa. Geralmente quando me zango porque ela está cheia de sono e faz birra que não quer dormir saio do quarto e ela grita e refila e eu de 5 em 5 mnutos vou lá acalmá-la e deitá-la e era o que devia ter feito desta vez, nem sei o que me deu, é mesmo a irritação do dia a dia.
Espero conseguir não o repetir nem com ela nem com o mano.
Eles são crianças mas acima de udo são nossos filhos e são quem mais adoramos acima de tudo. Eles percebem o que se diz, é precio explicar-lhes as coisas e porque não podem fazer algo, e eu faço isso com eles, aquilo que nunca fizeram comigo porque como mãe acredito que tenho essa obrigação porque quero estar sempre presente para eles, porque a violência não leva a lado nenhum e porque quero que quando tiverem um problema não tenham medo de me dizer e de me procurar.
E, claro que isto é o que eu penso e cada um tem liberdade para pensar e fazer o que acha melhor, mas sei que isto é o que eu acho melhor.
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7 years ago
16 comments:
Apesar da convicção de não bater, é muito normal que de vez em quando isso aconteça. Lembra-te que nos nossos dias somos esposas, mães, trabalhadoras dentro e fora de casa... às vezes até acho que aguentamos demasiado.
Eu também grito mais do que bato e, tal como tu, depois de gritar ou bater fico cheia de remorsos mas tenho a certeza que não é por isso que somos menos mães, que amamos menos os nossos filhos.
bjinhos
P.S. Sabes o que é feito da Margarida das "princesas"? E da Sandra "Brema"? É que na altura em que privatizaram os blogs eu não lhes conseguia aceder mas agora com um PC melhor queria tentar. E já agora a Loira e a "Vida Maravilhosa"? Desculpa o abuso mas perdi o rasto a elas todas ...
bjinhos
A tua escrita transparece realmente alguma irritação... Tenta relaxar um bocadinho, porque tudo aquilo que dizes é verdade e como diz a margarida, nós somos tudo além de mães!
Tentar mostrar aos nossos filhos o melhor e fazê-lo da melhor forma é a nossa obrigação, se de vez em quando surgir uma palmada, não somos piores mães por isso, basta não fazermos diss uma forma de combater as birras deles.
Uma Beijokita boa e... calma!
Olá Sandra,
Não sejas tão dura contigo própria. És uma boa mãe, e além disso és mulher és esposa, trabalhas fora e dentro de casa, e uma palmadinha de vez em quando não faz mal a ninguem. Eu sou uma pessoa muito calma e tento levar tudo pelo melhor lado, pela conversa, pela explicação , o porquê de terem que ir dormir, mas é claro que há birras tão grandes e se lhes dou uma palmada é porque achei que foi na altura certa e não porque descarreguei o meu stress do dia em cima delas ,nesses casos não me arrependo. Acho que tudo com o seu peso e medida.
Bjos grandes
Carla
Não somos perfeitas e há dias em que a paciência é mais curta por um motivo ou outro..Defendo o explicar e nunca dei uma palmada ao meu filho, explico o porquê de não poder fazer det. coisa! Espero nunca me saltar atampa ao ponto de lhe dar uma palmada porque acho que não vou conseguir viver com o remorso...mas não sejas tão dura contigo própria, estamos sempre a aprender, sempre a errar é humano...e não fizeste estragos nenhuns aos teus filhos, são ciranças felizes e é isso que importa! As férias vêm aí e pode ser que consigas relaxar, pois parece pelos teus posts que andas "stressada", será? Não te preocupes! Bjnhos grandes
Também tento não usar a palmada como forma de educar mas, por vezes, é mesmo impossível. Para mais que o piolhito é demasiado teimoso. O pai é mais de bater do que eu. Até já lhe disse que, qualquer dia o menino não quer nada com ele pois está sempre a gritar-lhe ou a dar palmadas. Eu sou mais de gritar ou, então, prendo-o na cadeirinha ou meto-o na caminha (pelo menos aí não faz asneiras).
Mas olha que, com o stress do dia-a-dia é difícil, por vezes, conseguirmo-nos controlar e, quando damos por isso, já está.
Mas como disse a margarida não é por isso que somos menos m~es ou que gostamos menos dos nossos filhos. Ninguém gosta tanto deles como nós.
Joquinhas gandes e não te martirizes mais com isso
Sofia
ando com tantas dúvidas em relação a isso, sou mãe de primeira viagem e tenho um terrorista com 13 meses que agora deu para bater em toda a gente, principalmente em mim, já não sei o que fazer, ando a ler sobre o assunto...
beijocas
Ruth+Diogo
Estás zangada contigo mesma. É normal errar-mos, os nossos limites por vezes sofrem demasiadas pressões e acabamos por perder a cabeça com quem mais amamos. Um grito uma palmada às vezes até um olhar que fazemos e eles não mereceram por isso.
Não te culpes, é normal e é bom que reconheças tudo isso. Lembra-te que não existe receita para ser mãe, muita coisa não vem nos livros, e temos que ser nós a saber lidar com cada situação e mesmo no meio de uma palmada ou de um grito existe o nosso amor. E tu também amas os teus bonecos e eles sabem isso.
Bjs
Acho que uma palmada na vida é mais ou menos inevitável. Os meus pais sempre foram de explicar as coisas e a única vez que apanhei uma palmada foi do meu pai e foi merecida... acho que lhe doeu mais a ele que a mim ;)
E essa também me parece ter-te doído mais a ti.
Beijocas
Obrigada pela resposta rápida. Fiquei com pena que a Margarida tenha deixado mesmo o blog, foi com ela que primeiro contactei.
bjinhos
Já há algum tempo que sou seguidora assidua do seu blog mas só hoje comento pelo primeira vez. De facto faço-o porque o assunto me tocou profundament. Também sou mãe embora a minha filha já tenha 23 anos, mas não esqueço nunca o drama que era para mim sempre que lhe dava uma palmada. Devo confessar que por vezes doía-me mais em mim que nela propriamente.Ela depressa esquecia e quando eu fazia questão de mais tarde a chamar á razão, explicando-me e explicando os motivos que me levaram a proceder assim, ela já nem lembrava. Mas eu, como a maioria das mães ficava com o coração pesado, chorava e sentia-me arrasada. Mesmo sabendo que o havia feito para o seu próprio bem, o remorso matava-me.Por isso, não se preocupe que não é a única com este tipo de sentimento. Ser mãe é assim e um dia os seus filhos vão agradecer-lhe por ser quem é. Um beijinho e... muita força.
Tantas vezes me zanguei comigo própria por me ter visto incapaz de controlar a minha irritação. Por ter gritado quando tinha prometido não o fazer. E, recentemente, por ter perdido a cabeça com o pimpolho, já depois de crescido e ter-lhe dado um estalo - sim, um estalo!!! - um dia destes em que me passei mesmo a sério. Não é que ele não estivesse a pedi-las... E disse-lhe aquela frase batida que me revoltava sempre ouvir do meu pai: "doeu-me mais a mim do que a ti". E entendi o sentido da frase. Ele não. Mas pude garantir-lhe com toda a propriedade que um dia ele a entenderia, como eu. E assim será. É doloroso darmos por nós a repetir padrões que prometemos não repetir. E não conseguir evitá-lo. Mas acredito que o facto de sofrermos com isso e dos nos esforçarmos diariamente para melhorar e corrigir esses erros é uma aprendizagem válida e útil, para nós e para os nossos filhos. E que o amor que temos por eles é enorme, transcendente.
Como te entendo...também utilizo a técnica do levantar a vóz...mas hás vezes...ou melhor há dias que venho mais impertinente, ou que dormi pior e acho que levanto demais...e penso : " meu Deus pareço mesmo a minha mãe"...a minha mãe nunca teve o hábito de nos bater...mas sim de levantar a voz...hihihi e abrir os olhos...apercebo-me que faço o mesmo! bjinhs gds
Por isso é que eu gosto de ti!! Falas honestamente e sem esconder, eu também sou assim e não acredito nas mães que dão a imagem de perfeitas... Estas coisas fazem parte da nossa vida e cada uma gere como pode! E nada tem de simples!
bjs
Uma perfeita mãe é o que aqui acabei de ler!!!
Um xi grande
Sabes, és uma excelente mãe. Eu penso que uma mãe é sempre boa mãe desde que ame os filhos de verdade. As formas de educação variam, há quem não se importa de dar uma boa palmada, e há quem critique. Eu tenho dois filhos, e se o mais velho era um verdadeiro anjo em pequeno, já o mais novo é precisamente o contrário. E eu falo alto sim. E zango-me muito. E dou castigos. E por vezes escorrega-me a mão(raramente, mas acontece). E também eu peço desculpa desculpa e explico a razão.
Só que, se com o mais pequeno eu sei lidar...com o mais velho é mais complicado. Porque por vezes não há castigo a dar, e palmadas muito menos. Tenho optado por ralhar, chamar a atenção..mas confesso que é muito muito complicado.
Por isso minha amiga homónima:
És e serás sempre uma boa mãe. Amas os teus filhos. E fazes o melhor que sabes.
bjs
Sandra
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