(Talvez demasiado longa e confusa, tal como a saúde em Macau!)
8:10 – A mamã (portuguesa) chega ao Centro de Saúde (em Macau) com a filha e senta-se na cadeira número um, era a primeira a chegar. Espera pacientemente até às 8:30, quando no altifalante é anunciado, em CHINÊS, que vão distribuir as senhas ou algo do género.
De seguida aparece um enfermeiro e uma enfermeira que pegam no Boletim da criança, verificam algo e dão um termómetro à mamã para por debaixo do braço da criança, sempre sem dizer uma palavra, mas pelo objecto em causa e pelos gestos percebe o que é para fazer.
Até aqui tudo bem. Fazem o mesmo com todas as crianças, principalmente com aquelas que vão levar vacinas, percebeu a mamã depois de observar e de tentar perceber o que diziam.
Continua sentada à espera, não faz ideia por quanto tempo deve deixar o termómetro debaixo do braço (sim, geralmente são 5 minutos, mas nunca se sabe!...) e quando o deve ir (e se deve ir) entregá-lo à enfermeira.
Vai entretendo a filha para que ela se esqueça que tem o termómetro.
O altifalante volta a anunciar algo, em chinês. A mamã não percebeu, não estava atenta e é a senhora que está na cadeira dois que lhe diz que deve ir. Ora, ir onde? Valeu o facto de já lá ter estado antes e de saber que tinha de ir à sala de observação antes de ir à consulta.
Medir o perímetro cefálico, verificar o comprimento (aqui ela já chora), sentá-la na balança para a pesar (aqui além de chorar já treme por todo o lado e está vermelha que nem um tomate). “Ok, wait outside” (Ok, espere lá fora). Era a primeira vez que diziam algo que compreendesse...
Sentou-se novamente na sua cadeira número um e ficou a aguardar enquanto acalmava a filha que só gritava por papel para limpar os olhos cheios de lágrimas e o nariz. A senhora simpática da cadeira dois ofereceu-lhe um lenço de papel. Calçou-a e continuou a aguardar...
O altifalante volta a anunciar algo, novamente em chinês. A mamã, claro não percebeu, não estava atenta e nem à espera que aquele anúncio lhe dissesse respeito. É, novamente, a senhora que está na cadeira dois que lhe diz que deve ir para ver o médico. Já um pouco irritada lá vai a mamã para a sala do médico, que afinal não tem culpa do sistema e diz “Good morning!”, ao qual obtém como resposta uma pergunta em chinês: “Mé meng?”. A mamã decide se deve ignorar ou não e diz “Sorry?” (Desculpe?) ao qual o médico, sempre sem levantar os olhos do papel (ou lá o que era que tinha em cima da secretária) volta a repetir a pergunta: “Mé meng?” Sem paciência e já um pouco irritada, a mamã responde, diz o nome da filha. Ele, então pega na ficha dela, que tem espetado em cima com um clip o número um. Será que não era suposto ter sido o número um a entrar? Por acaso até foi esse o número chamado pelo altifalante, em chinês que realmente a mamã não tinha percebido mas que a senhora número dois tinha tido a simpatia de avisar que era para entrar.
A mamã que só ali está porque é obrigada a ir a uma consulta para a filha poder levar as vacinas e que faz as consultas de rotina no pediatra particular decide não dar importância e informa o médico que está ali para a filha levar as vacinas dos 18 meses.
Ele vê o Boletim da criança de uma ponta à outra e conta os meses, depois diz, desta vez em inglês(!) “1 ano e 7 meses”, enfatizando os 7 meses. A mamã não responde. Ele volta a repetir, novamente com ênfase nos 7 meses e a mamã apenas responde “yes”. Volta a ver o boletim da criança e vê uma consulta marcada para 21/11/2006. Aponta a data e diz “You forgot this one” (Esqueceu-se desta), ao que a mamã lhe responde que a filha tinha febre e que quando a febre passou foi a Portugal de férias, pareceram-lhe explicações a mais e começou a irritar-se, estava quase para lhe dizer que se não lhe ia dar as vacinas que não a fizesse perder tempo e o declarasse por escrito. Respirou fundo.
O médico não disse nada, examinou uns papeis do pediatra particular que a mamã se tinha esquecido de retirar do boletim da criança e que por acaso datavam de 18/11 e era uma receita de Paracetamol e Brufen (até pareciam que estavam lá para confirmar a veracidade da febre...) e voltou-se para o computador onde mostrou à mamã que a filha deveria levar 3 vacinas. A mamã apenas anui com a cabeça. Tentou ver-lhe os dentes mas a gritaria que a criança fez fizeram com que apenas os vislumbrasse quando ela atirou a cabeça para trás a chorar de boca aberta. Auscultou-a à frente e atrás, sempre com ela ao colo da mamã a berrar e a tentar atirar-se ao chão (que pestinha!).
O médico perguntou se ela lavava os dentes e se cuspia a pasta. Disse que ela poderia tomar cálcio que a mamã pensou ser liquido e depois verificou que são tipo pastilhas para por na boca e mastigar. Ainda bem que não foi preciso pagar, não parece que a criança as vá tomar... Receitou igualmente vitaminas e 2 (!) supositórios tipo Benuron para o caso da criança ter febre como reacção às vacinas. Realmente 2 supositórios e a febre vai passar, sem comentários...
Pergunta à mamã se quer dar a vacina da gripe à filha, que por acaso está constipada e a mamã responde que não, porque a filha está constipada. O médico diz que pode dar depois quando a constipação passar e a mamã já a pensar no tempo que teria de perder numa nova consulta e responde que não, não queria dar mais uma injecção à filha.
O médico volta a pegar no Boletim da criança e aponta as vacinas que não fazem parte do plano de vacinação de Macau enquanto refere em tom critico que a mamã não lhe quer dar mais uma vacina mas deu-lhe a da varicela e 3 tipos diferentes de meningite. A mamã responde que em Portugal a meningite mata e que vão muitas vezes a Portugal, ao que ele responde que a gripe também mata mas a mamã já está sem paciência nenhuma e prestes a explodir e diz-lhe que não quer.
Pergunta se quer marcar nova consulta de acompanhamento e a mamã responde que apenas as das vacinas, mas ele diz que agora não há mais (suspiro de alívio da mamã!) e que será apenas aos 6 anos, na escola!
Sai de lá para a sala de observação onde lhe dão os medicamentos que estão na receita e lhe apontam o papel da receita que tem escrito em inglês o modo de tomar os mesmos.
A enfermeira explica em inglês que a criança precisa levar duas injecções, uma em cada braço e umas gotas na boca. Começa-se pelas gotas e ela chora, mas parece que engoliu...
Depois a mamã despe-a e segura-a para a primeira injecção no braço direito e muita luta e muito choro. Mal se acalma segue-se o braço esquerdo.
Depois das vacinas dizem que tem de carimbar na recepção e que depois de aguardar 20 minutos na sala de espera pode ir para casa. Inicialmente pareceu-lhe que teria de aguardar 20 minutos e que depois, sem dizer nada a ninguém, podia ir embora. Volta a perguntar em inglês e a enfermeira lá lhe diz que depois dos 20 minutos deveria ir à sala de observação. Continua sem perceber porquê e pergunta mas não lhe sabem explicar.
O papá entretanto tinha chegado e esperava lá fora porque a mamã disse que era só levar a injecção e ir embora. Enquanto a enfermeira e o enfermeiro discutiam sobre como explicar à mamã que tinha de esperar 20 minutos, a mamã telefonou ao papá para ir ter com ela e tentar perceber o porquê dos 20 minutos. Entretanto, a ter de esperar aquele tempo todo a mamã verifica que chegará atrasada perto de uma hora ao trabalho e que é necessário uma declaração do médico a dizer que esteve no Centro de Saúde todo aquele tempo.
O papá chega e a mamã conta-lhe o que se passa e ele vai perguntar ao enfermeiro (em CHINÊS) o porquê de esperar 20 minutos, mas o enfermeiro não percebe o que ele quer. Os dois a conversar em chinês e não percebe... Entretanto chega a enfermeira (a mamã acha que o enfermeiro é estagiário porque não faz nada, só observa a enfermeira a fazer) e o papá volta a explicar que quer saber porque é preciso esperar 20 minutos e se depois alguém vai ver a criança, dado que a mamã não percebe porque é preciso esperar e eles também não sabem falar com ela e explicar-lhe. Depois de algum mal entendido a enfermeira lá explica que houve uma criança que fez uma reacção muito rápida aquela vacina e por isso agora é preciso esperar para ver a reacção.
Segue-se a confusão de pedir a declaração para apresentar no trabalho e com a enfermeira a perguntar a hora a que chegou a mamã (algo pouco importante, porque se distribuíram as senhas às 8:30 e a mamã já lá estava podiam por essa hora...), depois porque queriam saber até que horas deveriam escrever e se a mamã não sabia a que horas de lá saía como deveria responder a tal pergunta?... A enfermeira decide que é melhor fazer a declaração só quando a mamã for embora (decisão inteligente!).
E com tanta confusão já tinham passado 10 minutos, faltavam mais 10 que passaram rápido e a enfermeira veio pedir a identificação da mãe e da filha para fazer a declaração para o trabalho e só olhou para a criança e a mandou ir para a sala de observação porque o papá perguntou (em chinês) se não era preciso observar a criança...
Criança observada, nada a assinalar, Benuron se tiver febre, gelo nos braços doridos... A mamã saiu de lá às 9:40.
A mamã chegou atrasada ao trabalho uma hora que terá de ficar a compensar ao final do dia. E foi a primeira a ser atendida, imaginem se não tivesse sido!
Esta história é verídica e passou-se esta manhã no Centro de Saúde da Taipa, Macau, China.
Adenda: Ainda sem tempo mas não podia deixar de registar esta história...Para a semana vou começar a aparecer por aqui mais vezes.